Wernher von Braun

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Wernher von Braun em Peenemünde, primavera de 1941
Wernher von Braun e família nos anos 1950

Wernher Magnus Maximilian Freiherr von Braun (* 23 de março de 1912 em Wirsitz, Bromberg, Posen; † 16 de junho de 1977 em Alexandria/VirginiaEUA) foi um engenheiro e cientista alemão, expert em desenvolvimento de foguetes e exploração espacial. Desenvolveu o míssil balístico PGM-19 Júpiter, o PGM-19 Redstone e teve participação destacada no projeto do primeiro voo com tripulação humana à lua, realizado em 1969 pelos EUA .[1]

Formação

Wernher von Braun foi filho de Magnus von Braun, [2] e sua esposa Emmy [3].

Desde sua infância, Wernher von Braun interessava-se pelas obras do pioneiro Hermann Oberth. Instigado pelos estudos das técnicas de propulsão a jato de Hermann Oberth e Rudolf Nebel, experimentava com fogos de artifício. Estudou no Ginásio Francês (Französisches Gymnasium) em Berlim, e posteriormente na Hermann-Lietz-Schule, em Spiekeroog. Em seguida absolveu um treinamento técnico nos Borsigwerken de Berlim, e estudou ciências naturais e físicas na Technische Hochschule, também de Berlim. Ainda estudante, Wernher von Braun já desenvolvia estudos na área de propulsão a jato e trabalhava no campo de lançamentos de foguetes de Reinickendorf em Berlim, sob o comando de Rudolf Nebel.

Em 1932 fundou-se a Associação Espacial (Verein für Raumschiffahrt – VfR), e Wernher tornou-se seu presidente.

Em outubro de 1932, Walter Dornberger contratou Wernher von Braun a trabalhar com as autoridades militares (Heereswaffenamt) no campo de pesquisas de foguetes de propulsão com combustíveis líquidos („Versuchsstelle für Flüssigkeitsraketen“) em Kummersdorf .

Seguindo conselhos de Dr. Karl Emil Becker, Wernher von Braun transferiu-se da Technische Hochschule para a Universidade, onde doutorou-se (Promovieren) a Dr. Phil. em 1934 com a dissertação escrita "Considerações construtivas, teóricas e experimentais sobre o problemas dos foguetes de propulsão a combustível líquido" („Konstruktive, theoretische und experimentelle Beiträge zu dem Problem der Flüssigkeitsrakete“) A dissertação foi classificada como "assunto confidencial" (Geheime Kommandosache) e por conseguinte não foi permitida a sua publicação. Recebeu a classificação máxima "eximium" (extraordinário). A dissertação oral de Wernher von Braun recebeu a classificação "cum laude".

Familia

Wernher von Braun casou-se em 1947 com sua prima Maria, nascida von Quistorp. Do matrimônio resultaram duas filhas , Iris e Margret, e um filho, Peter. O irmão de Wernher, Sigismund, foi até julho de 1976, embaixador da República Federal da Alemanha em Paris.

O programa espacial

Em novembro de 1934, Wernher von Braun lançou os seus primeiros foguetes: Aggregat 1 (A1) e Aggregat 2 (A2), que batizou com os nomes de Max und Moritz, em alusão aos personagens de Wilhelm Busch ("Juca e Chico", na versão em português de Olavo Bilac). Os lançamentos, realizados na ilha Borkum, no Mar do Norte foram bem sucedidos e os foguetes alcançaram a altitude de 2.200 metros.

Não obstante o sucesso inicial promissor, os cientistas alertaram do ainda longo caminho a percorrer até obter-se artefatos que atendessem as necessidades tanto militares como para a exploração espacial. Inicialmente apresentavam-se também grandes dificuldades na obtenção dos elevados recursos financeiros necessários, além de conflitos de competência entre o Exército e a Força Aérea (Luftwaffe). O empenho e a capacidade organizatória de Wernher von Braun e Walter Dornberger foram fundamentais na superação das dificuldades que se interpuseram, e tiveram especial mérito no sucesso da instalação da estação experimental de Peenemünde.

Em 1937, aos 25 anos de idade, Wernher von Braun tornou-se Chefe da Estação Experimental Espacial de Peenemünde na ilha Usedom.

O inicio em si, da História do desenvolvimento espacial alemão deu-se com o lançamento do Aggregat 3 (A3) na segunda metade do ano de 1937.

Em 1938 foi construído o protótipo de um foguete de longo alcance. Sob a denominação de Rakete A4, teve com sucesso seu primeiro lançamento em 03 de outubro de 1942.

A era da exploração espacial tinha se iniciada. Walter Dornberger assumiu o comando e von Braun a diretoria técnica do projeto de mísseis militares (A4 ou V2).

O projeto militar

Inicialmente o projeto foi visto com reticências por Fritz Todt e Albert Speer, e também por Adolf Hitler . Sòmente em 1943 começou a ser estimulado intensivamente, porém, com o ataque aéreo a Peenemünde em 17 e 18 de agosto de 1943, o seu andamento foi sensivelmente retardado. Somente em 12 de julho de 1944 a versão anterior V1, pode ser lançada sobre o canal da Inglaterra.

Em 08 de setembro de 1944, foi a vez da A4 (V2), o primeiro míssil balístico de longo alcance da História militar, a ser lançado em direção à Inglaterra.

Mais de 2.500 mísseis do tipo V2 foram mobilizados, porém resultados decisivos não puderam ser alcançados.

Ainda antes do final da Segunda Guerra Mundial, Wernher von Braun desenvolveu os foguetes A9 e A10, de longo alcance com dois estágios, que formaram a base da futura exploração espacial desenvolvida pelos EUA e pela União Soviética.

Ao final da Guerra, Wernher von Braun transferiu grande parte do laboratório e dos planos para a Turíngia, enquanto ele deslocou-se para a Baviera.

Operation Paperclip

Wernher von Braun e grande numero de cientistas alemães caíram prisioneiros de guerra dos EUA. No escopo da Operation Paperclip Wernher von Braun e mais de 130 cientistas do projeto, ainda em 1945 foram aliciados a desenvolver o programa espacial dos EUA. À elite da inteligência alemã, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial foi colocada a opção de ser processada e condenada à morte como criminosos de guerra ou a colaborar com os interesses dos vencedores e transferir os seus conhecimentos e suprir a carência tecnológica dos EUA. O mesmo procedimento foi adotado pela União Soviética com aqueles cientistas que por eles puderam ser capturados. Às custas do conhecimento alemão, as duas potências do pós-guerra entraram em um equilíbrio de conhecimento e portanto de forças, que manteve durante décadas a situação da chamada Guerra Fria.

Atividades nos EUA

Wernher von Braun (à direita) e Walt Disney.

Os cientistas foram levados ao Fort Bliss no Texas onde tiveram que aplicar seus conhecimentos no desenvolvimento de propulsores de foguetes e no estudo de questões relativas à exploração espacial. Assim possibilitaram não só o início da exploração espacial americana, como deram imenso impulso ao seu desenvolvimento. Os primeiros artefatos lançados (em White Sands, no Novo Mexico) foram os foguetes V2 trazidos da Alemanha.

Dada a utilidade de Wernher von Braun, o pragmatismo americano não demonstrou constrangimento em conceder em 1955 ao ex-membro do NSDAP e da SS a cidadania americana, em desrespeito às leis vigentes

A partir de 1950, técnicos alemães trabalharam, sob a direção de Wernher von Braun, no Redstone-Arsenal em Huntsville, Alabama, no desenvolvimento do primeiro míssil teleguiado com armamento nuclear, de curto e médio alcance (Honest John, Nike e Redstone).

Rivalidades entre as forças militares americanas provocaram a estagnação do projeto de lançamento de satélites, embora experimentalmente bem sucedido. Somente com o sucesso do Sputnik russo em outubro de 1957 e ainda com uma mal sucedida tentativa de lançamento pela Marinha, as atenções voltaram-se ao projeto.

Um primeiro sucesso foi, em inicio de fevereiro de 1958, a Explorer I. Wernher von Braun defendia enfáticamente as suas idéias sobre a exploração espacial frente ao senado e ao público. Apresentou-se até em programas televisivos infantis e assessorou Walt Disney na criação de filmes de ficção científica.

NASA

Em 1958 iniciou-se o desenvolvimento do propulsor "Saturno". Após o presidente John Fitzgerald Kennedy ter definido a conquista da Lua como objetivo nacional, a equipe de Wernher von Braun passou a trabalhar a partir de outubro de 1959 em subordinação à NASA – National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço).

A partir de 1960 Wernher von Braun trabalhou como diretor do George C. Marshall Space Flight Center em Huntsville. Sua missão principal e prioritária foi a construção da "Saturno V", foguete de três estágios, o então maior propulsor já desenvolvido com o objetivo específico de conquistar a lua, objetivo este alcançado em julho de 1969 com a "Apollo 11" quando dois astronautas americanos pisaram o solo deste planeta.

Até 1970, o custo do "Programa Saturno", incluída a construção de 15 foguetes, alcançou a cifra de 8 bilhões de dólares americanos, um quarto do total requerido pelo projeto "Apollo". Aproximadamente 400.000 pessoas trabalharam no projeto. Wernher von Braun declarava que gerações futuras perceberiam que o valor da viagem à lua era superior ao seu custo. A mesmo tempo porém dedicava-se aos planos da instalação de uma estação espacial e do voo à Marte.

Não obstante no início de 1970 Wernher von Braun ter sido designado vice-diretor da NASA em Washington, os imensos custos dos foguetes não reutilizáveis por um lado, e os resultados práticos inicialmente nada espetaculares por outro, fizeram diminuir o interesse pela conquista espacial e consequentemente as dotações orçamentárias relacionadas. Assim em 01 de julho de 1972 Wernher von Braun transferiu-se da NASA para a Fairchild em Germantown, Maryland, como vice-presidente das áreas de pesquisas e desenvolvimento espacial, com o objetivo de desenvolver sistemas de transmissão de dados via satélite.

Em julho de 1975 Wernher von Braun assumiu também um mandato de conselheiro fiscal (Aufsichtsrat) da Daimler-Benz AG em Stuttgart, Alemanha.

Morte

Wernher von Braun faleceu aos 65 anos de idade, em consequência de grave doença cangerígena. Foi homenageado e admirado pelo público. Na República Federal da Alemanha porém, em consonância com o mentalidade auto-depreciativa do cidadão alemão padrão do pós-guerra, foi e é (principalmente após 1990) rotulado pela mídia nacional como "des Teufels Raketeningenieur" (algo como "engenheiro - de foguetes - do diabo").[4]

Condecorações

  • Em 29 de outubro de 1944 Wernher von Braun e Walter Dornberger foram condecorados com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Mérito da Guerra, com espadas (Ritterkreuz des Kriegsverdienstkreuzes mit Schwertern)
  • Doutor honoris causa em várias universidades[5][6]
  • Medalha Hermann-Oberth (1952)
  • Ordem de mérito na defesa do país (A maior condecoração para civis, 1957 )
  • Medalha em ouro do Federal Civil Service (1958)
  • Medalha em ouro da Sociedade Interplanetária Britânica ( 1961)
  • Robert Goodhard Award (1961)
  • Medalha Hermann-Oberth (1961)
  • Ordem de mérito da República Federal da Alemanha (1959)
  • Ordem de mérito da República Federal da Alemanha com estrela (1971)
  • Membro honorário da Sociedade Alemã de Voos Espaciais ( e de outras organizações similares)
  • Galabert-Prize (1966)
  • Westpreußischer Kulturpreis (1966)
  • Medalha Wilhelm-Bölsche (1967)
  • Medalha Wilhelm-Exner (1969)
  • Medalha da Humboldt-Gesellschaft

*Siemens-Ring (1976)

  • Outrossim foi homenageado com o registro de uma cratera lunar em seu nome.
  • Em 25 de outubro de 2010 realizou-se o terceiro Wernher-von-Braun-Memorial-Symposium da União dos Astronautas Norte Americanos, na University of Alabama em Huntsville. [7]
  • Wernher von Braun foi o único membro da SS homenageado por diversas vezes tanto no Terceiro Reich como posteriormente nos EUA.

Citações

"Eu penso que o espaço hoje é menos perigoso que as ruas de Berlim"
( „Ich glaube, der Weltraum ist heute weniger gefährlich als die Straßen Berlins.“)

Literatura

  • Bernd Ruland: Wernher von Braun: Mein Leben für die Raumfahrt. Burda Verlag Offenburg, 1969
  • Ernst Stuhlinger und Frederick I. Ordway: Wernher von Braun – Aufbruch in den Weltraum. Die Biographie. Bechtle, Esslingen und München 1992, ISBN 3-7628-0515-6
  • Rainer Eisfeld: Mondsüchtig. Wernher von Braun und die Geburt der Raumfahrt aus dem Geist der Barbarei. Rowohlt, Reinbek 1996; 2000, ISBN 3499609436
  • Volkhard Bode und Gerhard Kaiser: Raketenspuren. Bechermünz Verlag, Augsburg 1997, ISBN 3-86047-584-3
  • Johannes Weyer: Wernher von Braun. Rowohlts Monographien. Rowohlt, Reinbek bei Hamburg 1999, ISBN 3-499-50552-5
  • Michael J. Neufeld: Die Rakete und das Reich. Wernher von Braun, Peenemünde und der Beginn des Raketenzeitalters. (OT: The Rocket and the Reich). Henschel, Berlin 1999, ISBN 3-89487-325-6
  • Vittorio Marchis: Wernher von Braun: Der lange Weg zum Mond. Spektrum der Wissenschaft, Biografie 4, 2001. Spektrum der Wissenschaft Verlagsgesellschaft mbH, Heidelberg 2001, ISSN 1436-3054
  • Niklas Reinke: Geschichte der deutschen Raumfahrtpolitik. Konzepte, Einflussfaktoren und Interdependenzen: 1923-2002, München 2004, ISBN 3-486-56842-6
  • Thorsten Dambeck: Astronauten sollten 1982 den Mars erobern. Em: Spiegel Online, 6 de julho de 2005, online
  • Die Rakete in der Wüste. Ein Museumsbesuch an einem wirklich verlorenen Ort in der Weltgeschichte, dort, wo es begann: das nukleare Weltzeitalter. Frankfurter Rundschau, 23 de março de 2006, pág 23
  • Lutz Warsitz: Flugkapitän Erich Warsitz. Der erste Düsenflugzeugpilot der Welt. Books on Demand, Norderstedt, 2006, ISBN 3-8334-5378-8, Bookinfo
  • Stefan Brauburger: Wernher von Braun. Ein deutsches Genie zwischen Untergangswahn und Raketenträumen. Pendo Verlag, München 2009, ISBN 9783866122284
  • Michael J. Neufeld: Von Braun. Dreamer of Space, Engineer of War. Alfred A. Knopf, New York 2007, ISBN 978-0-307-26292-9; edição alemã: Wernher von Braun. Visionär des Weltraums, Ingenieur des Krieges. Siedler Verlag, München 2009, ISBN 978-3-88680-912-7

Referênicas

  • David Irving: Unternehmen Armbrust – Der Kampf des britischen Geheimdienstes gegen Deutschlands Wunderwaffen
DER SPIEGEL 44/1965
DER SPIEGEL 45/1965
DER SPIEGEL 46/1965
DER SPIEGEL 47/1965
DER SPIEGEL 48/1965

Notas de rodapé

  1. A mídia nos EUA caracterizava von Braun como "Cristóvão Colombo do século XX"
  2. Magnus von Braun, em 1917/18 foi chefe de imprensa da chancelaria do Reich, depois governador de Gumbinnen na Prússia Oriental, e de 1932 a 1933 ministro da alimentação (Reichsernährungsminister) no governo de Franz von Papen, futuro vice-chanceler de Adolf Hitler
  3. Emmy foi filha de Wernher von Quistorp (*1856; †1908) membro da 1ª. Camara do Legislativo Prussiano (Preußische Herrenhaus).
  4. veja BILD, 23 de março de 2012: Die Wahrheit über Hitlers Raketen-Bauer
  5. No total lhe foram concedidos mais de 20 títulos honoris causa
  6. Wernher von Braun recebeu o título dos seguintes estabelecimentos de ensino superior:
    • University of Alabama
    • University of Tennessee at Chattanooga
    • University of Pittsburgh
    • Saint Louis University
    • Technische Universität Berlin (1963)
    • Canisius College, Buffalo
    • Clark University Worcester, Mass.
    • Adelphi College, New York
    • Pennsylvania Military College, Philadelphia (hoje: Widener University)
  7. 3rd Wernher von Braun Memorial Symposium: 21st Century Approaches to the Use and Development of Space