Frederico II

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Frederico, o Grande (Busto de Gottfried Schadow)

Frederico II, ou Frederico, o Grande (* 24 de janeiro de 1712 em Berlim, Alemanha; † 17 de agosto de 1786 em Potsdam, ibidem) foi rei na Prússia desde 1740. Com as guerras da Silésia entre 1740 e 1763 obteve para a Prússia, contra a Áustria, a conquista da Silésia; com a Guerra dos Sete Anos o reconhecimento de grande potência.

Frederico II é considerado representante do absolutismo esclarecido. Designava a si mesmo de "o primeiro servidor do Estado".

Infância e Juventude

Frederico II era filho de Frederico Guilherme I (Friedrich Wilhelm I) chamado de Soldatenkönig (Rei-Soldado). Sua mãe, Sophie Dorothea von Hannover, a única filha do futuro rei Jorge I da Inglaterra, era meiga, sensível, amante das artes, portanto o oposto de seu pai, extremamente severo. Por ela o menino Frederico e mesmo mais tarde o jovem sentia-se compreendido em seu amor à música e à poesia. Ainda que predestinado ao papel de príncipe-herdeiro repugnava-lhe de início o ofício militar devido aos métodos educativos excessivamente rigorosos do pai. Para educar o jovem Frederico, o pai elaborou um plano detalhado. Os principais elementos eram o amor ao ofício de soldado, a devoção religiosa e o temor a Deus. A ciência viria em seguida. Quando os interesses do jovem Friedrich se desviaram demasiadamente dos princípios do pai houve a desavença. O Príncipe gostava de literatura francesa, usava seu cabelo à moda francesa, e quando o serviço militar lhe permitia uma folga usava roupas francesas e dedicava-se à flauta, já que um grande talento musical lhe era inato. Seu pai odiava os hábitos francêses, pois nas cortes da Alemanha onde os costumes francêses tinham sido adotados o resultado era lamentável.

Os atritos entre pai e filho intensificaram-se com o tempo. A iracúndia do rei chegou ao ponto de fazê-lo agredir físicamente seu príncipe. O pai acirrado ainda juntava aos maus-tratos a humilhação, dizendo que "se ele mesmo tivesse sido tratado assim pelo seu pai, teria se matado, mas Frederico não tem honra, atura tudo". (Wäre er selbst von seinem Vater so behandelt worden, so hätte er sich totgeschossen, aber Friedrich habe keine Ehre, er lasse sich alles gefallen). A partir deste momento o Príncipe Herdeiro pensou seriamente em fugir. Combinou com alguns de seus amigos, o tenente von Katte e os irmãos Keith, sua fuga.

Numa viagem ao sul da Alemanha empreendida pelo rei em 5 de agosto de 1730, na qual o Príncipe Herdeiro o acompanharia, os jovens pretendiam realizar a fuga. Na aldeia de Steinsfurth, próxima a Mannheim, a comitiva pernoitou em dois celeiros, já que Frederico Guilherme tinha preferência por este tipo de alojamentos rústicos. O Príncipe pretendia atravessar o Reno e procurar refúgio na França. Entretanto, o acompanhante militar do Príncipe, Tenente-Coronel von Rochow tinha recomendado ao camareiro Gummersbach especial atenção à Alteza Real. O camareiro surpreendeu o Príncipe em sua tentativa de fuga e malogrou-a.

O tenente von Katte foi preso em Berlim. O Rei Frederico Guilherme sentiu-se traído e vítima de tramas e conspirações, imaginando que a Inglaterra e França estariam em conluio com o Príncipe, quando se tratava apenas de uma arteirice impensada de um jovem ressentido que supunha não poder mais suportar o tratamento do pai.

O tenente von Katte foi condenado à morte. Por ordem do Rei, a execução ocorreria diante das janelas da prisão de Frederico. Até o último instante contava-se com a remissão. Não houve perdão. Katte foi decapitado. Depois disto, Frederico teve que passar alguns meses hospedado no palácio de Küstrin e trabalhar na fortaleza. Aqui Frederico percebeu que além do rigor seu pai sentia cuidados e amor pelo filho. Contribuiu para esta mudança em seu relacionamento o fato que o pai agora vinha regularmente visitá-lo e informar-se sobre seu estado e seus afazeres.

Este período em Küstrin foi de grande importância na vida de Frederico. Obteve conhecimento sobre a administração do Estado e reconheceu pela primeira vez o alento e sucesso do trabalho incansável do pai. Finalmente, no final de novembro Frederico foi reconduzido de volta à mãe e irmã.

Início de governo

Frederico tinha compreendido a vontade férrea do pai e curvou-se a ela, mesmo quando lhe foi imposto o casamento com Elisabeth Christine von Braunschweig-Bevern. Mesmo que a mulher lhe tenha sido imposta, começaram com este casamento os quatro anos mais felizes na vida de Frederico. Em 1736 instalaram-se no palácio Rheinsberg no Margrave de Brandenburg, onde ele também começou a corresponder-se com o filósofo francês Voltaire. Rodeou-se de amigos cultos, espirituosos e pensadores. Frederico falava fluentemente francês. Em 1739 foi publicado seu trabalho "Antimachiavell".

No início do ano de 1740 , o Rei Frederico Guilherme, doente, transferiu-se para o Palácio de Potsdam. Em 30 de maio do mesmo ano o Príncipe Herdeiro Frederico foi chamado pelo seu pai moribundo. Encontrou-o sentado ao sol, no parque, acompanhando as obras na cavalariça real. Quando Frederico chegou, o pai tomou-o nos braços. Durante horas Frederico Guilherme conversou com seu filho sobre a situação política e o Estado e finalmente, tranquilizado, colocou o governo nas mãos de seu filho.

O que Frederico encontrou em 1740, quando após a morte do pai se tornou Rei da Prússia eram regiôes desconectadas: Prússia Oriental, Brandenburg e propriedades à margem do Reno. Reconheceu que com isso não era possível fazer boa figura e resolveu agir. Encontrou a oportunidade quando faleceu em Viena o Imperador, tornando-se regente das terras hereditárias de Habsburgo sua jovem filha Maria Theresia. Frederico conquistou a Silésia pela primeira vez em 1740, ocupando Breslau. Não foi uma campanha gloriosa. Seguiram-se uma segunda e uma terceira campanha. Só então Frederico conseguiu dedicar-se ao seu país, a esta altura esgotado. Já no primeiro mês de governo o Rei demonstrou seu espírito resoluto. Com uma penada aboliu a tortura, até então ainda usual no âmbito jurídico. Em seguida vieram aquelas resoluções referentes às religiões: "Todas as religiões são iguais e boas, se as pessoas que as professam são honestas". ("Alle Religionen sind gleich und gut, wenn nur die Leute, welche sie ausüben, ehrliche Leute sind.") E ainda a outra expressão que de certa maneira complementa a primeira:" As religiões todas devem ser toleradas, e o Estado deve cuidar para que uma não interfira em outra, pois aqui cada um deve tornar-se bem-aventurado à sua maneira". ("Die Religionen müssen alle toleriert werden, und es muss der Staat ein Auge darauf haben, dass keine der anderen Abbruch tue, denn hier muss jeder nach seiner Façon selig werden können").

Rei da Prússia

No verão Frederico começava a trabalhar às 4 horas, no inverno às 5. Isto continuou assim durante os 46 anos de seu governo.

Durante todo seu governo Frederico fomentou ciência e arte, mas os assuntos de Estado tinham total prioridade. Quando após a morte do imperador Carlos VI sua filha Maria Theresia se tornou arquiduquesa da Áustria, Frederico reclamou a cessão da Silésia à Prússia, aludindo a direitos prussianos. Em contrapartida estaria disposto a reconhecer a Pragmática Sanção, pela qual Maria Theresia tinha herdado as terras austríacas. Após a recusa da Áustria Frederico invadiu a Silésia e desencadeou a Guerra da Sucessão Austríaca. Após as vitórias prussianas de 1741 em Mollwitz e 1742 em Chotusitz Maria Theresia cedeu a Silésia à Prússia no tratado de paz de Breslau. Em 1744 Frederico adquiriu a Frísia Oriental, depois que seu regente tinha falecido sem deixar herdeiros. Em 1744 Frederico desencadeou a Segunda Guerra da Silésia, decidida em favor da Prússia e garantindo a posse da Silésia.

Com estas duas guerras Frederico demonstrou sua habilidade militar, alargando o poder da Prússia no Império, principalmente perante a Áustria. Como estava convicto que o dualismo austro-prussiano acabaria por escalar em guerra, acompanhava com suspicácia o armamento austríaco e sua política de coligações e acabou deflagrando a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) com o golpe preventivo na invasão de Kursachsen. Ao exército de Frederico contrapunham-se as forças armadas dos aliados Áustria, Russia, Suécia, Saxônia e França. Algum apoio recebia em forma de subsídios apenas da Inglaterra, que se encontrava em guerra contra a França. Após um decurso de sucessos e insucessos, que colocaram Frederico à beira da capitulação, acabou mais uma vez provando seu gênio militar, impondo-se contra a superioridade numérica.

O Dia de Kunersdorf (2 de agosto de 1759) trouxera a pior derrota do Rei na Guerra dos Sete Anos. Frederico atacara os russos reforçados por um exército austríaco de 200.000 homens, comandados pelo competente General Laudon. O início da batalha estava brilhante, e o Rei já estava enviando mensageiros para Berlim para noticiar a vitória, mas o final foi terrível. Quando suplicaram ao Rei, para não expor-se tanto às balas, respondeu: "Nos temos que fazer tudo para vencer esta batalha, e eu tenho que fazer o que é devido como qualquer outro". ("Wir müssen hier alles versuchen, um die Bataille zu gewinnen, und ich muß hier wie jeder Andere meine Schuldigkeit tun.") À noite Frederico foi visto dormindo em uma cabana de camponeses, sobre um monte de feno, com uma sentinela à porta. Parecia-lhe um milagre que os russos nada empreendessem apesar de sua vitória, mas o comandante russo, Príncipe Saltykov, fez uma observação estranha: "Mais uma batalha assim," lamentou, "e eu poderia voltar para São Petersburgo com uma bengala". ("Noch eine solche Schlacht, und ich könnte mit einem Stocke in der Hand nach St. Petersburg wandern".)

A Paz de Hubertusburg de 1763 assegurou à Prussia o status quo territorial de antes da guerra, sem que houvesse uma decisão quanto a rivalidade pela hegemonia no Império entre Prússia e Áustria, mas definitivamente a Prússia não mais podia ser abstraida do círculo das grandes potências na Europa. Em 1764 Frederico aliou-se a Catarina II da Rússia. Na primeira divisão da Polônia em 1772 Frederico ficou com Ermland e Prússia Ocidental, sem Danzig e Thorn, de modo que finalmente tinha sido criada novamente uma ligação territorial entre Mark Brandenburg e Prússia Oriental.

Na Paz de Teschen (1779) ao final da Guerra de Sucessão da Baviera (um breve conflito com a Áustria contra os planos de expansão dos Wittelsbach no sul da Alemanha), foram concedidos à Prússia as regiões de Ansbach e Bayreuth. A Áustria ficou com parte da região do Inn. Em 23 de julho de 1785 Frederico fundou a Liga Alemã dos Príncipes (Deutscher Fürstenbund) contra a hegemonia austríaca no Império.

Os últimos anos

Em sua política exterior Frederico jamais negligenciou a condição da Prússia como grande potência. A estafa a serviço do Estado causou-lhe a gota, mas menosprezando a fraqueza participou das manobras militares em agosto de 1785 na Silésia, e no dia 24, dia da revista principal, permaneceu a cavalo durante 6 horas, enquanto chovia a cântaros. Poucas semanas depois sofreu um ataque de apoplexia em Potsdam, do qual convalecia muito lentamente. Quando se aproximou a primavera Frederico não mais suportava permanecer em Potsdam e em 17 de abril transferiu-se para sua Sanssouci. Passava as noites sentado em sua cadeira de braços, com dificuldades de respirar. Às 4 horas da manhã recebia seus secretários. Em 4 de julho o Rei desejou montar a cavalo uma vez mais e mandou que lhe trouxessem Condé, seu velho querido cavalo branco e andou durante alguns quartos de hora pelo jardim do Palácio de Sanssouci.

Na noite véspera de 17 de agosto de 1786 o Rei ouviu o carrilhão marcar onze horas. Sobressaltou-se:"Que horas são? Às quatro quero levantar!" ("Was ist die Glocke? Um vier Uhr will ich aufstehen".) Reparou num galgo que tremia de frio e pediu que o cobrissem. Sustentado pelo seu camareiro, sua respiração tornava-se cada vez mais difícil. Após um violento acesso de tosse, disse: "Passamos pelo pior, agora vai melhorar!" ("Wir sind über den Berg, jetzt wird's besser gehen!"). O relógio marcava duas horas e vinte da manhã de 17 de agosto, quando deu seu último alento.

Obras (Seleção)

  • Anti Machiavell, Frankfurt 1745 (Anti Machiavell, Frankfurt 1745)
  • De la littérature, Frankfurt 1746 (Da literatura, Frankfurt 1746)
  • Mein lieber Marquis- Briefwechsel Zürich 1985 (Meu caro Marquês, correspondência, Zurique 1985)
  • Politische Correspondenz 46 Bände, Frankfurt 1879-1939/ Band 47 in 2003 (Correspondência política, 46 volumes, Frankfurt 1879-1939/ Volume 47 em 2003)
  • Versuch über Regierungsformen und Herrscherpflichten Frankfurt 1905 (Ensaio sobre formas de governo e obrigações de regentes)
  • Die Kunst des Krieges: Gedicht in 6 Gesängen, 1851. (A arte da guerra: Poesia em 6 cantos, 1851)

Literatura

  • K. F. Reiche: „Friedrich der Grosse und seine Zeit“, 1840 ("Frederico o Grande e seu tempo")(arq PDF)
  • Braun, Karl: Von Friedrich dem Grossen bis zum Fürsten Bismarck: Fünf Bücher, Parallelen zur Geschichte der Preußisch-Deutschen Wirthschaftspolitik 1882,("De Frederico o Grande a Bismarck: Cinco livros, Paralelas à história político-econômica alemã-prussiana") arq PDF 9MB
  • Carlyle, Thomas: Friedrich der Große, Berlin 1929 ("Frederico o Grande")
  • Deinhardt, J. H.: Friedrich der Grosse als Erbe der Regierungs-Maximen Friedrich Wilhelm's I., Programm zur Abiturprüfung des Köngl. Gymnasiums von Bromberg, 1860 "Fredrico o Grande como herdeiro das máximas de governo de Frederico Guilherme I, Programa para a prova do "Abitur" do Ginasio Real de Bromberg")(arq PDF)
  • Förster, Friedrich Christoph: „Friedrich der Große, geschildert als Mensch, Regent und Feldherr“, Berlin 1860 ("Frederico o Grande, descrito como homem, regente e militar")(arq PDF)
  • Kugler, Franz: Geschichte Friedrichs des Großen mit Abbildungen von Adolph Menzel ("História de Frederico o Grande com ilustrações de Adolph Menzel")(arq PDF), (versão HTML)
  • Kugler, Franz: Friedrich der Große, eine Biographie Berlin 1878 ("Frederico o Grande, uma biografia")
  • Oncken, Wilhelm: Das Zeitalter Friedrichs des Großen (1881);
  • Preuss, Johann David Erdmann :Friedrich der Grosse: Eine Lebensgeschichte ("Frederico o Grande, história de uma vida")
  • Ranke, Leopold von: Friedrich der Grosse (1878) "(Frederico o Grande")
  • Röchling, Carl, Knötel, Richard: Der alte Fritz in 50 Bildern für Jung und Alt, 1895 ("O velho Fritz em 50 imagens, para jovens e velhos")