Binjamin Wilkomirski

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Bruno Dössekker, alias Binjamin Wilkomirski

Binjamin Wilkomirski, na realidade Bruno Grosjean/Dössekker ( * 12 de fevereiro de 1941 em BielSuíça, é autor, clarinetista, luthier autodidata, testemunha profissional (Berufszeuge) e escroque literário.

Autorias e atividades

Em 1955 Wilkomirski publicou na editora Suhrkamp-Verlag o livreto "Bruchstücke. Aus einer Kindheit 1939-1948" (Fragmentos de uma infância 1939-1948). A publicação, editada no estilo autobiográfico descreve, na primeira pessoa, fragmentos da vida de uma criança no período nacional-socialista, na Letônia e em outros países.
Relata que, como criança judia, assistiu em sua mais tenra idade o assassinato de um homem por “uniformizados”, na cidade de Riga. Este homem teria sido possívelmente seu pai. Atribue-se a incerteza à sua pouca idade na época.
Após então se esconder com seus irmãos numa propriedade rural na Polónia, teria sido capturado e enviado a dois campos de concentração. No primeiro viu pela última vez sua mãe moribunda.
Após sua libertação teria sido encaminhado para um orfanato em Cracóvia, e posteriormente para a Suíça, onde teria pesquisado décadas até lograr obter informações sobre o seu passado, do qual lhe apenas restavam lembranças fragmentadas, e que era tratado como tabu pelos seus pais adotivos. O livro “Fragmentos de uma infância 1939-1948” recebeu versões em nove idiomas, e foi muito elogiado, principalmente por críticos anglo-saxões e suíços. Chegou-se a compará-lo com Elie Wiesel, Anne Frank e Primo Levi. Embora lhe tinha sido atribuído muito sucesso, o livro nunca teve grande êxito comercial [1]
Wolfgang Benz, do "Centro de Investigação sobre o Antissemitismo" (Zentrum für Antisemitismusforschung) elogiou em 1998 o texto por sua “autenticidade” e seu nível literário. “.[2]

Binjamin Wilkomirski apresentou-se como palestrante em diversas ocasiões como testemunha contemporânea (Zeitzeuge), para o público escolar, para meios de comunicação ou em eventos relacionados à Shoah. Apareceu também em vídeos e documentários da televisão.
Em suas apresentações não raras vezes detalhava passagens nebulosas em seu livro. Assim, verbalmente declarou ter sido interno dos campos de Madjanek e Auschwitz, alegando inclusive ter sido vítima de bestiais experiências médicas.[3]

Por sua obra literária recebeu três prêmios. [4]

A revelação

Em meados de 1998 porém, a imagem de Wilkomirski sofreu repentino abalo. Em artigo de 27 de agosto no semanário Weltwoche, o autor judeu Daniel Ganzfried, residente na Suiça, revelou que Binjamin Wilkomirski na verdade era Bruno Grosjean, filho ilegítimo de Yvonne Grosjean. Após um período internado em um orfanato em Adelboden, na Suíça, teria sido adotado pelo casal Dössekker.
Campos de concentração, na verdade, chegou a conhecer apenas como turista.
Daniel Ganzfried grafou o nome incorretamente como Doesseker, erro que consequentemente disseminou-se na mídia impressa. [5].

As revelações provocaram grande indignação, principalmente na Alemanha e na Inglaterra. Wilkomirski contestou as acusações, porém Ganzfried, com base em provas e pesquisas efetuadas, as manteve.

Em abril de 1999, a agência literária Liepmann em Zurique, que negociou os manuscritos de Wilkomirski com as editoras, contratou o historiador Stefan Mächler para pesquisar os fatos e apresentar elucidações abrangentes sobre o caso.
Stefan Mächler apresentou seu relatório ainda em 1999. Nele, deixou definitivamente confirmado que a pretensa autobiografia efetivamente não coincidia com os fatos históricos. Mächler demonstrou como Wilkomirski desenvolveu sua história fictícia ao longo dos anos.
Em sua “autobiografia”, Wilkomirski ambientou na Polonia, parte de sua infância que na realidade viveu na Suiça. Transmutou partes de uma historia real numa ficção Shoah. Até que ponto em sã consciência, não foi esclarecido. Enquanto Ganzfried considerava Wilkomirski um “falsário frio, consciente e sistemático”, Mächler tendia à possibilidade de um transtorno mental que o fazia vítima de ilusões em suas lembranças do passado..[6]

O caso continuou objeto de pesquisas publicadas por Ganzfried em 2002 sob o titulo Die Holocaust-Travestie.[7]. Posteriormente também Stefan Mächler acrescentou a seus estudos, pesquisas complementares para a compreensão do caso. [8] As publicações foram complementadas por resultados de investigações realizados pela Ordem de Advogados de Zurique, que, embora indiretamente, confirmaram que “fragmentos” da biografias foram inventadas.Teste de DNA (ácido desoxirribonucléico) realizado em Wilkomirski e seu pai biológico Bruno Grosjean resultou positivo. Estas verificações foram realizadas em função de uma queixa-crime de fraude, apresentada contra Wilkomirski, Dösseker e demais relacionados. A ação no entanto foi arquivada pelos fatos terem sido considerados irrelevantes pelas autoridades. .[9]

As reações

O desmascaramento de Wilkomirski provocou variados debates nas mídias entre 1998 e 2000. Reações mais expressivas houve na República Federal da Alemanha, onde o caso foi instrumentado para expor e tematizar o passado nacional-socialista alemão. Tamém na Suiça, o tema provocou emoções por coincidir com os debates sobre posicionamento dos bancos e autoridades em relação ao Terceiro Reich. O caso mostrou-se assunto também em discussões técnicas [10], sobre o gênero literário da autobiografia, sobre a historiografia e o status da Shoah na sua função vitimizadora, sobre a Historia Oral (Oral History), sobre o tratamento terapêutico de recordações do passado, e outras.

Casos similares

Misha Defonseca
Herman Rosenblat
Enric Marco
Otto Paul Uthgenannt

Referências

Notas de rodapé

  1. Mächler, 2002; pág. 87–90, 101–106; Oels, 2004, pág. 376–379
  2. Jörg Lau: Ein fast perfekter Schmerz.No jornal : Die Zeit, edição 39, 17 de setembro de 1998 ([1])
  3. Mächler, 2000,pág. 32–98
  4. Mächler, 2000, pág. 125–142
  5. Stefan Mächler, 2000
  6. Stefan Mächler, 2000, pág. 287 e seg.
  7. Neue Zürcher Zeitung, 5 de abril de 2002; Stefan Mächler, 2002, pág. 99–101, 126 e seg.,Süddeutsche Zeitung, 5 de maio de 2002
  8. Diekmann/Schoeps, 2002, pág. 28–131
  9. Neue Zürcher Zeitung, 13 de dezembro de 2002
  10. Veja Eva Lezzi e Stefan Mächler em: Diekmann/Schoeps (editor), 2002; Oels, 2004; Neukom, 2005; Bauer, 2006