Tobias Barreto

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Tobias Barreto

Tobias Barreto de Meneses (* 7 de junho de 1839 na vila de Campos, atual Tobias Barreto, em Sergipe (Brasil); † 26 de junho de 1889 no Recife, em Pernambuco (ibidem)) foi um filósofo, poeta e jurista brasileiro.

Formação e carreira

Tobias Barreto era filho de Pedro Barreto de Meneses, escrivão. Estudou as primeiras letras na cidade natal, partindo para Estância, cidade vizinha, e em seguida para Lagarto, onde estudou música e latim. Aos 15 anos já era professor de escola primária. Após fazer exame de latim, sendo aprovado com brilhantismo, em 1857 tornou-se professor de latim em Itabaiana.

Tobias Barreto porém ansiava por algo mais. Dirigiu-se em 1861 para Salvador, a capital da província da Bahia, para preparar-se ao estudo da teologia. Desistiu porém logo da intenção inicial de tornar-se padre , e passou a viver de expedientes, como professor de aulas particulares, cantor, músico, poeta, revisor e jornalista. No campo literário começou a entusiasmar-se com o poeta francês Victor Hugo, passando a escrever e poetar. No final de 1862 Tobias Barreto foi para Recife. Após sérios problemas de saude (varíola) e financeiros, conseguiu prestar exame vestibular para a mais antiga faculdade de direito do país, que tinha sido transferida havia 10 anos de Olinda para Recife, matriculando-se em 1864. Em Recife conheceu seu melhor amigo, o futuro escritor e sociólogo Sílvio Romero. Finalmente, em 1869, após assíduos estudos, prestou com louvor o exame de bacharel, para tentar a sorte como professor e advogado na capital de Pernambuco.

A fase mais criativa de Tobias Barreto foi durante o tempo de estudante e nos anos seguintes. Introduziu o estilo de Victor Hugo na literatura brasileira e tornou-se fundador do chamado "Condoreirismo", ao qual também pertencia o colega de estudos e rival Antonio de Castro Alves. Este é considerado o melhor, embora Tobias Barreto sem dúvida o superava intelectualmente. Mas Tobias Barreto também era lírico e algumas de suas poesias são tesouros imortais da literatura brasileira, como "O beija-flor", "Amália", "Pelo dia em que nasceste", "Gênio da Humanidade", "Lenda Civil", "O Beijo", e "Lenda Rùstica". Aos seus coetâneos porém impressionavam mais seus poemas patrióticos, surgidos durante a Guerra do Paraguai, como "Voluntários da Pàtria", "Leões do Norte" e "Sete de Setembro".

Quando Sílvio Romero conheceu Tobias Barreto, este já era poeta popular, recitador de poesias nos teatros, nas festas patrióticas e nos salões. Mais tarde Silvio Romero iria colecionar e reunir as poesias de seu amigo no volume "Dias e Noites".

Esta primeira fase de produção intelectual esteve recheada de intensas polêmicas literárias com seus colegas e contemporâneos Castro Alves, Franklin Távora e outros que cairam no esquecimento. Na filosofia, àquela época, Tobias Barreto, cultivava um "espiritualismo eclético ".

Já no final de 1868 Tobias conheceu uma das filhas do rico e poderoso usineiro em Escada, João Felix dos Santos. Seu casamento com Grata Mafalda significou para ele a ansiada ascenção social, a inclusão na "aristocracia branca do açucar" como Tobias ironizava. Realmente, àquela época o casamento de um mestiço, ainda que acadêmico, com uma moça branca, era no mínimo inusitado. O próprio Tobias passou pela experiência, tendo-lhe sido negada a mão de uma filha de um orgulhoso Cavalcanti. Diversas poesias tinham sido dedicadas a Leocádia Cavalcanti. Como Tobias não conseguia ganhar o suficiente para sustentar uma familia em crescimento, aceitou o conselho de seu sogro de abrir um escritório de advocacia em Escada e dedicar-se ao mesmo tempo à política partidária. De fato chegou a ser eleito uma vez (1878) para a Assembléia da Província pelo Partido Liberal. Mas Tobias Barreto, a quem as ciências atraiam mais que a política, percebeu logo que esta não era sua esfera, ainda mais que lhe faltava qualquer intuição diplomática, não poupando ninguém de suas críticas virulentas.

"Germanismo"

Entretanto, Tobias Barreto teve sua atenção atraida para as ciências humanas na Alemanha, através de literatos e cientistas franceses. Iniciou-se agora a fase científica e filosófica. Em 1870 Barreto visitava a livraria do francês Laillacard, na Rua Imperador, em Recife, para encomendar o livro " Geschichte des Volkes Israel " (História do Povo de Israel) do teólogo e orientalista alemão Heinrich Ewald. Comprou também um dicionário e uma gramática alemã e começou o estudo da língua alemã com o entusiasmo e a capacidade incrível de aprender que lhe era peculiar. Em poucos anos Tobias Barreto dominava perfeitamente o alemão, conseguindo ler e entender os clássicos alemães, filósofos e cientistas. Depois que Tobias Barreto leu e estudou o livro de Heinrich Ewald, nunca mais se distanciou do mundo intelectual alemão. Em dez anos (de 1871 a 1881) colocou os alicerces para seu "germanismo". Os 19 anos que lhe restavam foram uma luta incessante pelo seu "alemanismo". Nenhum brasileiro jamais fez tanto para tornar conhecidas no Brasil a cultura e ciência alemã. Mesmo com severos sacrifícios financeiros encomendava livros na Alemanha. Sendo inicialmente influenciado pelos filósofos Ernst Haeckel, Jakob Moleschott, Ludwig Büchner e outros, Tobias Barreto passou a estudar cuidadosamente as obras de Immanuel Kant. Enquanto Haeckel condenava o Kantismo, Barreto encontrou em Kant os elementos necessários para corrigir Haeckel, reagindo ao materialismo míope de Haeckel, Büchner e Moleschott e jogando-os ao ferro velho. Em seu livro "Da Escola de Recife", Vamireh Chacon chama Tobias Barreto de "Neokantista lavrado".

Quando faleceu seu sogro em Escada, houve brigas pela herança e Tobias Barreto, em vista de ameaças de morte, foi obrigado a mudar com sua familia para Recife. Em 1882, já conhecido e admirado, concorreu a uma cadeira na Faculdade de Direito. Embora tenha vencido no concurso com imensa superioridade, o corpo docente tentou livrar-se do candidato incômodo. Tobias lançou mão de medida extrema, telegrafando ao Imperador. Dom Pedro II intercedeu imediatamente e Tobias Barreto recebeu o professorado.

Enquanto era professor na Faculdade de Direito de Recife, Barreto detinha primeiro a cátedra de Direito de Processo Criminal, mais tarde as cátedras para Filosofia de Direito, Direito de Estado e Direito Penal, matérias sobre as quais discursava magistralmente.

Também como professor, Barreto continuou sendo guerreiro e polêmico, o que contribuiu para que até hoje as opiniões sobre ele divirjam tanto, idolatrado por uns, desprezado por outros. Sempre pensava apenas no objeto em questão, nunca em vantagens pessoais, defendia seu ponto de vista sem inibição, sem consideração a ninguém, sem bajular ninguém.

Escola de Recife

Tobias Barreto estava convicto de ter encontrado um tesouro com seu "germanismo", que tinha que ser resgatado em prol do Brasil. Com sua luta e suas polêmicas conseguiu efetivamente que seus amigos, e também seus inimigos, que até então sorviam sua sabedoria unilateralmente de livros e revistas francesas, se ocupassem com a ciência e cultura alemãs. Sem dúvida, o Brasil deve seu primeiro contato direto com a Alemanha espiritual a Tobias Barreto. Até então a Alemanha representava para a inteligência brasileira algo como um conceito nebuloso, ou como dizia Tobias Barreto "um capítulo de astronomia", sem influência na vida intelectual brasileira. A Escola de Recife é uma das poucas escolas filosóficas no Brasil que sobreviveu ao seu fundador, que mais se indentificou com as metas de um país que se encontrava em fase de industrialização e emancipação intelectual. Sua influência não se restringia a Pernambuco ou à Região Norte do país, onde quebrou o monopólio do Positivismo, mas encontrou representantes e defensores em todo o Brasil, tanto no Rio, como em São Paulo e Minas Gerais.

Em 1874 Tobias Barreto escreveu uma carta, em alemão, para Richard Mathes, redator do recém-fundado jornal "Allgemeine Deutsche Zeitung" do Rio de Janeiro, na qual comentou:

"Da Brasilien meiner Meinung nach im Vergleich mit anderen zivilisierten Ländern um Jahre zurück ist, muß es sich vor allem mit dem deutschen Geistesleben vertraut machen. Ich habe keine andere Absicht, als den geistigen Fortschritt meines Vaterlandes zu fördern. Mehr als je müssen wir Brasilianer Deutschland kennen lernen. Es handelt sich darum, bei uns die Liebe zum Germanismus zu wecken und unseren Geist auf Wege zu bringen, auf denen er die Wohltaten der modernen Kultur schneller und sicherer erlangen kann als auf dem bis heute begangenen Pfade, der oft genug im Sande verläuft, dem Pfade des Französismus."

("Como o Brasil, em minha opinião, está anos atrasado em comparação com outros países civilizados, deve familiarizar-se principalmente com a vida intelectual alemã. Não tenho outra intenção senão fomentar o progresso espiritual de minha pátria. Mais do que nunca nós brasileiros precisamos conhecer a Alemanha. Trata-se de despertar entre nós o amor ao germanismo e colocar nosso espírito em caminhos que propiciem as benesses da cultura moderna de modo mais rápido e seguro do que na senda percorrida até hoje, que muitas vezes acaba arenosa, a senda do francesismo.")

Um dos pontos altos da vida de Tobias Barreto foi a visita do príncipe Heinrich von Preußen em Recife, em maio de 1883. Príncipe Heinrich era o filho do príncipe-herdeiro e irmão do futuro imperador Kaiser Wilhelm I. Encontrava-se em viagem de circum-navegação a bordo da corveta "Olga" e queria conhecer pessoalmente Tobias Barreto, cuja biografia e retrato tinham sido publicados em diversos jornais na Alemanha. Visitou-o em sua casa, em sinal de homenagem pessoal, e foi convidado para um esplêndido desjejum a bordo do "Olga", do qual participaram os representantes do comércio alemão. O único brasileiro presente foi Tobias Barreto, que cumprimentou a todos com um discurso arrebatador, em alemão. No dia seguinte um trem especial saiu da estação de Cinco Pontes com Sua Alteza e comitiva com destino a Escada. Esta viagem, sob direção do então Professor Tobias Barreto, era uma maneira de privilegiá-lo, e como privilégio foi recebida por ele.

Morte

Tobias Barreto, o pobre mestiço de Sergipe, morreu mais pobre do que tinha nascido. Quando seu estado de saúde se tornou crítico, devido à doença de Bright, foi obrigado a licenciar-se de sua atividade de professor, em 1887. Após término do período de licença, seus colegas providenciaram que ele não mais recebesse remuneração nem ajuda. A miséria na casa de Tobias Barreto, incapacitado de trabalhar, tornou-se tamanha, que passou a depender da caridade alheia. Finalmente um ex-aluno, Otávio Manaya, apiedou-se do moribundo e levou-o a sua casa, onde faleceu à noite do dia 26 de junho de 1889.

Fontes

Karl H. Oberacker: Freunde der deutschen Kultur in Brasilien (Federação dos Centros Culturais 25 de Julho, 1982)

http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/26/artigo157897-1.asp