Elsa Brändström

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Elsa Bränström com sua filha Brita, 1932 (foto: Genja Jonas, Dresden) de: Frauen. Acht Lebensschicksale von Conradine Lück (1885–1959), Ensslin & Laiblin, Reutlingen 1936

Elsa Brändström, também Elsa Brandström (26 de março de 1888 em São Petersburgo, † 04 de março de 1948 em Cambridge, Massachusetts), foi uma humanitária sueca e germanófila, que dedicou a sua vida ao cuidado e tratamento de prisioneiros e feridos da Primeira Guerra Mundial. Trabalhou como enfermeira nos campos de concentração soviéticos, e ficou conhecida mundialmente como "Anjo da Sibéria".

Ethel von Heidestam
Elsa Brändström (à direita) e Ethel von Heidenstam com prisioneiros alemães na Sibéria, em 1916. O militar à frente teve amputadas suas pernas.
Coleta de donativos para prisioneiros de guerra alemães

Formação

Foi filha do adido militar sueco Pehr Henrik Edvard Brändström (1850-1921) e da artista Ana Wilhelmina Eschelsson (1855-1913).

Aos 03 anos de idade sua família mudou-se de São Petersburgo para Geel Linköping, na Suécia. Frequentou a escola básica em Linköping, na qual aprendeu o idioma alemão. Formou-se em 1906, com 18 anos. Neste ano seu pai foi promovido a General e nomeado embaixador em São Petersburgo. Os pais mudam-se sem Elsa, que permaneceu na Suécia para estudar Germanistica durante dois anos em Estocolmo.

Em 1908 juntou-se a seus pais em São Petersburgo e passou a conviver, dado o cargo diplomático de seu pai, com a alta sociedade russa. Com a morte de sua mãe em 1913, a filha assumiu além das funções domésticas, as obrigações sociais com recepções de diplomatas, políticos e artistas.

Primeira Guerra Mundial

Ao visitar em 1914 o Nikolai-Hospital de São Petersburgo, Elsa tomou contato pela primeira vez com a situação desesperadora de prisioneiros de guerra alemães. Sensibilizada pelo extremo sofrimento das vitimas da guerra, aglomerados no hospital em condições deploráveis, Elsa apresentou-se como voluntária ao governo russo, para prestar assistênca humanitária a doentes e feridos. Juntou-se a ela sua amiga Ethel von Heidestam (1881-1979). Assim obtiveram permissão de acesso aos campos de prisioneiros no leste da Rússia ainda czarista, que em breve passaria a ser dominada pelo bolchevismo.

Como delegada da Cruz Vermelha sueca, Elsa Brändström foi determinante no cuidado dispensado a prisioneiros de guerra em poder dos russsos e na organização do retorno dos mesmos à pátria. Arrecadou e viabilizou recursos para a construção de sanatórios e asilos na Alemanha . Elsa Brändström foi autora do livro documentário "Unter Kriegsgefangenen in Rußland und Sibirien 1914-20 (Entre prisioneiros de guerra na Rússia e na Sibéria 1914-20).

A partir de 1915 Elsa Brändström, e sua amiga Ethel von Heldenstam colocaram-se a serviço da Cruz Vermelha sueca, o que lhes dava relativo resguardo contra retaliações por parte de autoridades russas. Como representantes da Cruz Vermelha, conquistaram o direito de prestar assistência às centenas de milhares de prisioneiros de guerra alemães, austríacos e húngaros, amontoados nos numerosos campos de concentração no imenso território russo.

Em sua primeira visita a um campo de concentração russo, Elsa e Ethel depararam-se com um quadro de horror. Em barracos com capacidade de no máximo 500 pessoas, vegetavam perto do dobro de soldados alemães. Os barracos estavam infectados pela febre tifóide. Não havia instalações sanitárias ou de banho. O chão estava semeado com doentes. Em alguns lugares havia camas de ferro sem colchões, nos quais havia deitados dois doentes. Muitas vezes mais dois doentes jaziam embaixo destas camas. Não havia cobertores nem travesseiros. As temperaturas desciam a -50 graus Celsius e os que não pereciam por hipotermia, morriam por subnutrição ou diarréia. Para estas criaturas, as duas mulheres, mesmo impossibilitadas de atender a todos, eram anjos, e diante deles os prisioneiros caiam de joelhos e choravam, tomados de emoção e esperança.

Nos poucos campos que possuíam calefação, os sistemas eram mantidos desligados por ordens das autoridades dos campos. Nestas condições, não é de se estranhar que nos primeiros anos da Primeira Guerra Mundial mais de 80 porcento dos prisioneiros alemães pereceram devido a epidemias, fome e frio. Estimativas indicam que 600.000 soldados alemães e dezenas de milhares turcos otomanos e curdos pereceram de maneira degradante em campos de concentração russos.

Com a dedicação de Elsa e Ethel, as condições de atendimento aos presos gradativamente apresentaram melhoras. Voluntários surgiram na Suécia e em outros países em luta pela melhora das condições desumanas em que se encontravam as vítimas da guerra.

Elsa Brändström organizou o envio de donativos (Liebesgaben) da Alemanha: mantimentos, cobertores, medicamentos, dinheiro. Durante 6 anos organizou com abnegação, o transporte de 1000 vagões com os mais diversos bens de subsistência para os presos. Teve de combater por muitas vezes o comportamento maldoso das administrações dos campos de concentração russos. Assim, devido ao tratamento desumano dispensado aos presos, conseguiu que fosse destituído o comandante do campo de Tobolsk, na tundra siberiana.

Prisioneiros de guerra eram ou transportados por via férrea Rússia adentro, ou marchavam sob forte vigilância em direção aos campos de concentração na Sibéria. Expostos sem qualquer proteção ao frio intenso, às epidemias e à subnutrição absoluta, morriam aos milhares antes de chegarem ao destino. O transporte irregular e desorganizado fazia os presos permanecerem detidos a meio caminho durante semanas, sem suprimentos e sem qualquer assistência. As marchas dos comboios de presos para os campos transformavam-se em verdadeiras “caças às raposas” e poucos alcançavam os destinos.

Conforme relata Elsa em seu livro "Unter Kriegsgefangenen in Rußland und Sibirien":

  • "As próprias autoridades não tinham noção o que fazer com estes seres humanos. Havia casos em que se mantinha os prisioneiros durante semanas aguardando em campo aberto".
("Die Behörden wußten auch selbst nicht, was sie mit diesen Menschen anfangen sollten. Es gab Transporte, die nach zwei Wochen noch untern freiem Himmel auf einer Wiese lagerten"). [1]


  •  :"Presos sãos, ou cujos ferimentos não os impediam de marchar, eram juntados. Iniciava-se a marcha sob forte esquema de vigilância, Rússia adentro. Marchas diárias de 20 a 30 km eram comuns. Isto durante semanas, para às vezes alcançar-se uma conexão ferroviária. Quanto mais os presos se distanciavam, mais o tratamento tornava-se brutal. Eram tocados feito gado. Os retardatários eram chicoteados".
("Unverwundete und Leichtverletzte, deren Wunden nicht am Marschieren hinderten, wurden gesammelt. Dann begann unter starker Bewachung der Fußmarsch nach Rußland hinein, und oft mußten täglich 20-30 km während mehrerer Wochen zurückgelegt werden, bevor ein Bahntransport möglich wurde. Je weiter ab von der Front die Gefangenen auf ihrem Marsche kamen, desto strenger und rücksichtsloser war die Behandlung. Wie Herdenvieh wurden sie vorwärtsgetrieben, während die Kosaken ihre Säbel zogen und Nachzügler mit der Peitsche antrieben")

Elsa Brändström, tratando de doentes da febre tifóide também tornou-se vítima desta doença.[2] Ethel von Heidestam providenciou um trenó, no qual Elsa, envolvida totalmente em cobertores foi amarrada . O cocheiro partiu para levá-la ao posto de assistência médica mais próximo. Elsa já tinha partido em outro trenó, a preparar a recepção da doente. Quando o trenó de Elsa chegou ao posto, verificou-se que estava vazio. As amarras tinham se soltado. De volta ao caminho em procura da doente, o cocheiro a encontrou semi-congelada na neve. O seu restabelecimento finalmente ocorreu após meses de intensivos cuidados médicos. Elsa foi nestes tempos a única mulher entre milhares de homens e trabalhou incessantemente no salvamento de inúmeras vidas humanas. Providenciou socorros médicos, arrecadou víveres e vestimentas. Foi apoio psicológico para as aquelas vítimas conscientes de que nunca retornariam à pátria, à família. Seu comportamento resoluto, seu talento organizacional e sua convicção em ajudar os necessitados, lhe trouxeram a admiração e o respeito de todos os envolvidos na tragédia humana provocada pelo conflito daquela época. (Tragédia que viria a se repetir em maior dimensão com a Segunda Guerra Mundial, na qual, situações ainda mais degrandantes ocorreram em campos de concentração como aqueles nos vales do rio Reno (Rheinwiesenlager), instalados pelos aliados após a rendição alemã na própria Alemanha. Em 1918 Elsa Brändström fundou um abrigo com capacidade para 600 prisioneiros tuberculosos. Vivia entre os presos e convencia autoridades a lhe fornecer apoio para a sua obra. Viajava o território russo de oeste a leste e prestava assistência nos campos do oeste aos situados após o lago Baikal. Mesmo após a revolução de outubro de 1917, quando a situação para os presos alcançou níveis excepcionalmente criticos, conseguiu se impor frente aos comissários bolcheviques. Foi a única pessoa políticamente neutra que não abandonou o País, preferindo dividir o sofrimento com seus protegidos, como "presa entre os presos". Permaneceu na Rússia mesmo durante a revolução, mesmo tendo sido retirado pelas autoridades sua permissão de permanência e de trabalho entre os presos. Em 1920 foi condenada à morte, pena convertida em internação em Omsk. Nesta ocasião, o General Alfred Knox, chefe da missão militar britânica na Sibéria escreveu:

"A guerra fez surgir muitas heroínas em diversas nações, porém em minha opinião, ninguém que mais merecesse ser reverenciada do que Elsa Brändström."

Além de milhares de tesmunhos de criaturas humanas desconhecidas, Elsa também salvou a vida de pessoas cujo destino lhes permitiu relatar a dedicação salvadora, como o escritor vienense Franz Carl Heimito Ritter von Doderer (1896-1966). Von Doderer relata o sofrimento dele e de seus companheiros durante o aprisionamento. Inicialmente internado no oeste russo, com a revolução russa foi transferido para o campo de Krasnorjarsk, situado no leste russo. Doderer relata em textos publicados, inclusive numa edição postuma de 1991 sob o titulo de "Die sibirische Klarheit" (em tradução literal: A clareza da Sibéria), como ele e seus companheiros devem a sobrevivência nos campos russos, até sua repatriação em 1920, à ação de Elsa Brändström frente à Cruz Vermelha. Somente após Fridtjof Nansen ter organizado a retirada os prisioneiros de guerra , Elsa entendeu ter chegada a hora a voltar suas atenções para o ocidente. Relatou suas experiências ao meio da tragédia humana no livro „Unter Kriegsgefangenen in Sibirien 1914-1920“ (Entre prisioneiros de guerra na Sibéria 1914-1920).

Cruz Vermelha alemã

A partir de setembro de 1915, membros da Cruz Vermelha Alemã, e delegados da Cruz Vermelha da Dinamarca, Áustria e Hungria, obtiveram permissão para visitar campos de concentração russos, com duração máxima de dois dias em cada campo. Os relatos eram chocantes e as missões assistenciais não traziam melhorias permanentes. Somente a ação contínua de numerosas enfermeiras sob a direção de Brändström possibilitaram melhoras mais substanciais no quadro de horrores representado pelos campos.

Entre muitos abnegados pela causa missionária, seguem alguns membros do corpo missionario:[3]

  • Magdalene von Walsleben (posteriormente Freifrau von Steinaecker)
  • Alexandrine (condessa) Gräfin von Üxküll-Gyllenband
  • Erika von Passow
  • Condessa (Gräfin) Mathilde Horn
  • Baronesa (Baronin) Elisabeth von Gagern
  • Oberin Emma von Bunsen
  • Anne-Marie Wenzel
  • Annit Rothe
  • Käthe von Mihalotzy
  • Baronesa (Baronin) Andorine von Huszár
  • Princesa (Prinzessin) Cunigunde von Croy-Dülmen
  • Condessa (Gräfin) Anne Revertera
  • Condessa (Gräfin) Ilona von Rosty
  • Condessa (Gräfin) Magda Cebrian
  • Condessa (Gräfin) Pauline von Stubenberg-Palffy
  • Condessa (Gräfin) Nora Kinsky

Vítimas da missão

Numerosos abnegados foram vitimados no exercíco de sua missão. Muitos faleceram ao se infectar durante o contato com os doentes. Outros foram torturados, e muitos sofreram violência sexual. Segue um extrato a simbolizar todos que deram sua vida e se sacrificaram defendendo as vítimas da violência e irracionalidade.

  • Dr. Sven Hedblom, sueco, assassinado em Chabarowsk, setembro de 1918
  • Ole Opshaug, norueguês, assassinado em Chabarowsk, setembro de 1918
  • Helmy Koff, estoniana, assassinada em Chabarowsk, setembro de 1918
  • Irmãos Marstrand, dinamarqueses, asssassinados em Taschkent, 23 de janeiro de 1919
  • Erika von Passow, alemã, desaparecida desde maio de 1919

Notas de rodapé

  1. Fonte: Unter Kriegsgefangenen in Rußland und Sibirien – 1914–1920
  2. Der Engel von Sibirien von Ernst Probst
  3. Hannes Leidinger und Verena Moritz von Böhlau: Gefangenschaft, Revolution, Heimkehr, Böhlau (2003), ISBN 978-3205770688