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Acção Global dos Povos
A Acção Global dos Povos (também conhecido pela sigla AGP) é um movimento radical e social, leva a cabo campanhas populares e acções directas em resistência contra o capitalismo e pela justiça ambiental e social, faz parte do movimento anti-globalização.
Índice
História da AGP
A inspiração inicial para a formação da AGP originou de um encontro global organizado, em 1996, pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que tinha iniciado uma insurgência de bases no empobrecido Estado mexicano de Chiapas na passagem de ano de 1994, quando entrou em vigor o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA).
Os zapatistas levaram a cabo uma convocação, via e-mail, para um encontro internacional de movimentos de base que iria decorrer em arenas, construídas especificamente para esse encontro na selva de Chiapas, com o propósito de discutirem tácticas, problemas e soluções. Estiveram presentes seis mil pessoas oriundas de mais de 40 países, ficou estabelecido que iriam criar uma rede colectiva que abrangesse todas as lutas e resistências de cada grupo… uma rede internacional de resistência contra o neo-liberalismo e pela humanidade.
Em Agosto de 1997, a rede de apoio zapatista na Europa organizou um segundo encontro em Espanha, encontro este planeado com os zapatistas já no encontro de 1996. Participaram neste encontro delegados oriundos de todo o mundo, entre os quais o Movimento dos Sem Terra brasileiro e a União dos Agricultores do Estado de Karnataka, da Índia, conhecida pela sua campanha “cremem Monsanto”, que envolvia a queima de campos de colheitas geneticamente modificadas. Neste encontro foram delineados alguns dos objectivos e princípios organizacionais da rede emergente.
Em Fevereiro de 1998 os movimentos oriundos de todo o mundo encontraram-se novamente, desta vez em Genebra, e foi finalmente lançada a AGP.
Fundamentos da AGP
A AGP é um instrumento de comunicação e coordenação, não é uma organização. A AGP não tem porta-vozes nem militantes. Não existe uma liderança visível, apesar se serem periodicamente eleitos conselheiros continentais que levam a cabo a organização de conferências e mantêm ferramentas de comunicação cruciais. A identidade da AGP reside essencialmente nos seus cinco pontos. Estes pontos foram criados em 1998 mas desde então foram desenvolvidos e alterados nas conferências posteriores, particularmente de modo a serem manifestamente anti-capitalistas (em vez de apenas anti-neoliberais), para evitar uma confusão ideológica com os anti-globalistas de Direita e para fortalecer as suas perspectivas de género (num ênfase feminista). Os pontos permitem às organizações que queiram afiliar-se à AGP uma rápido vislumbrar acerca desta, permitindo-lhes determinar se a AGP é do seu agrado.
- Rejeição clara do capitalismo, do imperialismo e do feudalismo; oposição a todos os tratados comerciais, instituições e governos que promovam a destrutiva globalização.
- Rejeitamos todas as formas e sistemas de dominação e discriminação, entre eles, mas não só, o patriarquismo, o racismo e o fundamentalismo religioso de qualquer credo. Defendemos a dignidade total de todos os seres humanos.
- Atitude confrontadora, uma vez que não acreditamos que apenas efectuando pressões consigamos ter um grande impacto sob organizações tão laterais e não democráticas, nas quais só o capital transnacional consegue influenciar as suas políticas.
- Apelamos à acção directa e à desobediência civil, ao apoio às lutas dos movimentos sociais, à advogação de formas de resistência cuja máxima seja o respeito pela vida e os direitos dos oprimidos bem como a construção de alternativas locais ao capitalismo global.
- Defendemos uma filosofia organizacional baseada na descentralização e na autonomia.
AGP, convergência racialista e além da Direita e da Esquerda
Durante a preparação para a manifestação contra a conferência da Organização Mundial do Comércio em Seattle, em 1999, a AGP organizou duas caravanas, uma no interior dos EUA, que incluía activistas oriundos de Chiapas, no México, e a outra oriunda do Canadá. A última acabou por de dirigir ao congresso organizado pelo Fórum Internacional pela Globalização, considerado como sendo um think tank da elite de Direita cujo objectivo é o de convencer a Direita e a Esquerda a trabalharem em conjunto na formação de um movimento a favor da globalização. Mike Dolan, que trabalhou para Ralph Nader no grupo de protecção do consumidor, Public Citizen, foi um financiador e um substancial activista da AGP. O mesmo apelou ao apoio à candidatura presidencial de Pat Buchanan, Dolan fez circular um artigo de jornal no qual Buchanan afirma que “Os trabalhadores estadunidenses e o povo estadunidense estão em primeiro lugar”. Quando os pontos de vista e acções de Dolan foram criticadas pelas bases, Michael Morrill, o coordenador da caravana americana da AGP, defendeu-o imediatamente. “Temos que trabalhar juntos quando podemos, trabalhar em paralelo quando devemos, mas nunca devemos trabalhar uns contra os outros quando os nossos objectivos são a eliminação da OMC e dos seus benfeitores corporativos.”
Em 2001 Raj Patel e Kala Subbuswamy discutiram a problemática de grupos como a AGP no que diz respeito à questão racial:
“Os princípios de descentralização e de autonomia adoptados por muitos movimentos radicais podem também, embora não intencionalmente e irremediavelmente, excluídores. Muitos grupos radicais têm princípios anarquistas por trás – não hierárquicos, em favor de decisões consensuais, tornando-os em estruturas informais. Um dos problemas que isso origina é que frequentemente se escudam disso para não se falar acerca do que “o movimento” pode fazer acerca de questões raciais e de género, com a desculpa de que não somos um movimento, mas um conjunto de indivíduos e, portanto, não podemos tomar decisões acerca do “movimento”. Mas a Earth First! Do Reino Unido e a Acção Global dos Povos *são* movimentos, ou pelo menos redes com hierarquias e estruturas informais com regras não escritas. Cada acção envolve uma decisão e uma escolha e é importante que essas sejam abertas. Por exemplo, ao dizer que não podemos excluir fascistas dos nossos encontros implica uma escolha – se é permitido às pessoas fazerem comentários racistas, acabamos por excluir as pessoas de cor, ou no mínimo evita-se qualquer hipótese de nos sentirmos confortáveis. É por esta razão que na última conferência movemo-nos explicitamente de modo a se condenar explicitamente a discriminação.”
Em 2002, Maria Theresa Santana, presidente da Movo wa Taifa (RU) – associação feminina pã-africana, participou numa conferência da AGP europeia, em Leiden, e manifestou a sua fúria pelos pontos de vista eurocentristas das discussões da AGP.
Na conferência regional da AGP no Panamá, em Agosto de 2003, foram manifestadas mais preocupações acerca das intenções antihierárquicas, notava-se a emergência duma liderança que ocasionalmente se limitava a “passar a informação às bases”, estavam a ser tomadas decisões em encontros que decorriam na Europa e que “os europeus estão a impor a sua realidade política e modo de trabalho”, e ainda que activistas de relevo estavam a promover atitudes sexistas enraizadas em fundamentalismos religiosos.
Apesar destas discussões internas a conferência da AGP europeia de 2004, em Jacinci, Belgrado, acordou que “se um fascista vier na qualidade de indivíduo interessado e respeitar todos os nossos pontos, e cujo comportamento durante a conferência seja correcto, isso não seria um problema”. A polémica aprofundou-se ainda mais com a descoberta de que Leonid Savin, coordenador da antena da AGP da Ucrânia, era também activista do Partido da Eurásia, de Aleksandr Dugin, a antena dirigida por este foi retirada do portal oficial da AGP. Outra preocupação da AGP tem sido o Nacional-Anarquismo.
Consulte também
Ligações externas
- AGP, página oficial
- Conferências Europeias